7 de out. de 2010

Perdeu playboy!

 Fala galera, aqui é o Leo Vilhena postando, acabei de acordar e ao ir verificar e-mail, me deparei com essa postagem no blog do yahoo, e achei interessante.

Por Dudu Tsuda . 06.10.10 - 20h12


Basta de violência



Estou eu indo pacatamente jogar cartas na casa de alguns amigos nas proximidades da PUC-SP. Passo no supermercado para comprar algumas cervejas, sigo com o carro lentamente, como numa tarde de domingo. Chego no local. Estaciono o carro numa ótima vaga, em frente ao prédio. Penso, “Perto da PUC? Deve ser meu dia de sorte!”

Saio do carro para pegar minha mochila no banco de trás, quando sou abordado por três moleques. No início fico achando que são flanelinhas. Mas a coisa vai esquentando, um deles puxa um 32 cano médio e começa a me ameaçar.

Não entro em pânico. Algo dentro de mim me deixa em paz. “Afinal, este revolver é de brincadeira?”

“Você quer o quê?”

“A chave do carro tio, passa a chave do carro que tá tudo certo! Passa logo, tio!!!”

Olho de novo para os algozes, e vejo três meninos e uma arma. Aquilo não faz sentido. Me lembro do Dadinho interpretado por Douglas Silva, no filme “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles 2002.

Bom, fazer o quê? Entrego as chaves, me distancio aos poucos. Espero eles entrarem no veículo. Quando percebo que tenho meu tempo, saio correndo gritando a clássica frase do infortunado paulistano: Polícia!!! Polícia!!! Alguém chama a polícia!!!

Também tenho meus truques. O carro estava travado com minha despercebida multilock (trava de segurança que mantém o carro engatado em marcha ré). Me pediram somente a chave (parafraseando o Vampiro Brasileiro de Chico Anísio, “minha vingança sará maligna!!!”).

Os infelizes não só ficam atrapalhados com esse pequeno detalhe, como também batem no carro de trás que, por sua vez, dispara um alarme. Cena de filme.

Saem correndo. Pessoas gritando das janelas. Tudo muito rápido. Quando vejo, um deles está dominado pelos guardas, e uma legião de moradores xingando e gritando por justiça, tal qual um bandido é encurralado pela multidão numa cidade medieval.

Não sinto nada. Olho o opressor como se fosse mais um animal capturado, tão vítima quanto eu.

Pensar o quê? Minha cabeça já é povoada por considerações sociais pela desigualdade socioeconômica, pela falta de educação, falta de perspectiva da juventude carente e todos aqueles pensamentos “polianos” que uma vítima humanista da violência urbana brasileira pode ter. Pô, mas o cara quase me matou!

Ouço pessoas comentando que esse tipo de gente tem que morrer, que isso e que aquilo. Enfim, uma profusão de sentimentos disparados por uma única arma, a violência urbana.

Pela reação dos moradores, muito solícitos e muito indignados com a situação de um desconhecido, percebo o óbvio: que a coletividade paulistana não aguenta mais essa opressão invisível da violência, reforçada pela sensação de orfandade institucional, como se ninguém estivesse aqui por nós.

Crônica de uma morte (quase) anunciada
Chego na delegacia às 22h, escoltado pelo carro da Polícia Militar. Mais uma bela sabatina. Ninguém tem a mínima consideração pela privacidade da vítima. Somos expostos diversas vezes ao olhar do “menor abandonado”, que irradia ódio em seus olhos.

Inutilmente, tento um disfarce com óculos escuros e chapéu de sol. Quem diria que mais tarde todos meus contatos (telefone, celular, endereço residencial, filiação, etc.) estariam dispostos nas cópias do B.O. distribuídas a todas as partes envolvidas. Como é que ninguém nunca achou isto bizarro antes?

Um dos soldados me interroga sobre o acontecido. No meio tempo, pergunto-lhe sobre a arma. Era de verdade. Não só um autêntico Taurus brazuca, mas um revólver que teve seu gatilho apertado: como as balas eram velhas, não dispararam.

“Santo anjo da guarda!” Começo a achar que tenho sorte. Brasileiro tem mania de ver coisa boa até nessas situações. É o planeta Coco! Me incluo neste grupo estatístico.

Não contentes com tanto constrangimento, não é que chamam a família do dito cujo para ficar cara a cara comigo, na aconchegante salinha de TV? Enquanto esperamos pela manufaturação do B.O., ficamos trocando alguns olhares “amistosos”, com balões de pensamento: “Ahá… Então é você!”

Veredito: menor será encaminhado para Fundação Casa, que substituiu a antiga Febem, e passará a noite em cárcere na delegacia. Por Fundação Casa, leia-se o último lugar do mundo para onde se manda um ser humano que se espera um dia reintegrado na sociedade. Por passar a noite em cárcere na delegacia… bem, pulamos esta parte.

Se o garoto não enlouquecer lá dentro, vai sair de lá mais calejado, com um currículo carimbado numa renomada instituição educacional do “crime”, sem futuro, sem perspectivas profissionais, sem parâmetros morais ou éticos, sem amor no coração, praticamente um criminoso formado.

Dias depois....
O que sentir depois de um episódio destes? Raiva e ódio do sistema, pena do garoto, raiva do garoto, culpa por ter presenciado a “prisão” em flagrante de um menor, feliz por ter “sobrevivido”, vítimas de uma situação socioeconômica?

Além de subtraídos da nossa privacidade, do nosso espaço, da nossa intimidade, somos ainda impingidos de sentimentos bipolares e conflituosos, com mil e uma considerações filosóficas e sociais, e uma turbulenta maré de emoções.

Viver e morrer parecem antagonias binárias tal qual o zero e o um do cálculo digital. Já diz o ditado popular, “para morrer, basta estar vivo”.

Fica o vazio. O mesmo vazio dos olhos do garoto no momento em que foi pego pela polícia.


Ausência de Interfaces
Somos levados aos pensamentos mais violentos por sentir na pele diariamente que as instituições públicas não nos fornecem condições para exercermos nossos direitos.

Somos livres para sofrer nas filas dos hospitais públicos, para nos conformarmos com o falho sistema educacional, com os inúmeros buracos nas vias públicas e nas calçadas, a viver o caos diluviano na época das chuvas, com a falta de interesse político em acreditar em soluções realmente benéficas à coletividade. Mas as multas de trânsito chegam com a rapidez e a eficiência de um relâmpago e os impostos são cobrados e fiscalizados com veemência. Aí você pensa: Tá errada essa p… Quero reclamar!

A burocracia aparece, te joga um balde de água gelada com cheiro de peixe, chuta teu traseiro e ainda te solicita reais e mais reais em documentações e certidões.

O sujeito vai se cansando. Vai se enchendo de política por simples descrédito. Eleições passam batido. A indiferença toma todo o espaço público como um câncer que se alastra por um corpo enfermo. Atinge ainda mais as instituições. Num ciclo vicioso nefasto e quase invencível.

Os sintomas mais esdrúxulos aparecem depois das eleições: Tiririca é o deputado mais votado, e Maluf é, pela terceira vez, eleito deputado federal.

Depois das pataquadas políticas do falecido Clodovil e de toda a sorte de escândalos e falcatruas de seus colegas de Câmara, teremos pelo menos quatro anos com as pérolas que elegemos nesse domingo.

Não associamos de imediato, mas o micro se instaura a partir do macro. Ficamos tão focados nas dificuldades do dia a dia, na falta do “capim”, nos revezes muitas vezes causados pela incompetência das próprias instituições, que não percebemos como este troço chato, desesperançoso e podre chamado política, é essencial nas nossas vidas.

É por essas e por outras que, mesmo assim, a gente tem que continuar insistindo.

Insistir para que outros menores não cheguem a considerar a hipótese do uso da violência para adquirir qualquer coisa que seja em sua vida.

Insistir para que não haja mais armas de fogo circulando pelo mercado negro tal qual um celular roubado.

Insistir para que a gente não se depare com situações dessas, e na hora apenas nos caber pensar “Só no Brasil mesmo…”


http://colunistas.yahoo.net/posts/5532.html

1 comentários:

rai disse...

eu faço as mesmas pontuações do início do texto, mas ainda não consigo ter estas conclusões...