21 de nov. de 2009

Gincana Musical

Há 10 anos atrás eu ganhei um baixo de compensado de madeira, feito na Indonésia. Foi com ele que, poucos meses depois de começar a tocar, eu montei minha primeira banda (e muitas outras depois). Naquele tempo, para uma banda independente tocar em algum lugar você levava a sua fita nas casas de show (é, fita) e eles ouviam, e se gostassem marcavam sua data. Assim eu fiz muitos shows, e fui aprendendo sobre palco, público, equipamento, uma escola que me trouxe até aqui.

Hoje, 10 anos depois, eu já tenho outro baixo - de luthier e madeira de lei - a tecnologia avançou e qualquer banda pode gravar seu cdzinho com capinha bonita feita no photoshop, ter site charmoso, orkut, twitter, fotolog... Só que na hora de fazer show são outros quinhentos. Para entrar em festivais as bandas tem sido obrigadas a passar por uma verdadeira gincana musical! Temos listas de e-mail IMENSAS para poder divulgar as votações que devemos participar com total afinco para TALVEZ conseguir um showzinho de 5 músicas. E o que acaba acontecendo é que ninguém desses eventos está nem aí para ouvir o seu CD. Faz os shows a banda que ficar mais tempo que as outras votando na internet, que tiver mais membros da família engajados na mesma causa, a banda que conseguir vender mais ingressos para os amigos. Antes a gente era premiado pelos shows, hoje os shows viraram prêmios!!

Os bons artistas, os que tem um trabalho danado pra pensar em arranjos interessantes, criar personagens para subirem ao palco, os que pensam na apresentação como um todo, que gastam todo o dinheiro que têm para ter bons instrumentos, boa gravação, boas roupas, cordas novas, tudo isso para tocar de graça, acabam tendo esse trabalho todo ignorado. Porque no fim das contas a banda que subir no palco com qualquer trabalho medíocre, a mesma roupa que vai pra faculdade e levar mais amigos é a que sempre leva o show, a premiação.

Há alguns meses atrás eu estive aqui elogiando o Unifest Rock de Campinas, exatamente por não ser como todos esses outros festivais que precisamos encarar por aí. E esse post é básicamente sobre a mesma coisa, mas é que a frustração nunca passa. Eu trabalho de graça há 10 anos investindo muito dinheiro, suor, lágrimas, paciência, esperando para que minha banda seja reconhecida por todo o trabalho que faz e vendo amigos artistas excelentes sucumbirem a esse processo insano. Parece coisa de maluco trabalhar anos e anos de graça, mas um artista não é artista porque quer, mas porque precisa.

A Unidade Imaginária trabalha muito. São inúmeras noites não dormidas, horas na internet, ensaios, pesquisas, estudo não só sobre música, mas sobre mercado, eletrônica, sonorização, html, tendências, moda, todos os assuntos imagináveis relacionados a um espetáculo e sua divulgação. E fazemos tudo isso pois temos a esperança de sermos reconhecidos de verdade pelo nosso trabalho.

Eu tenho um lema na minha vida. Sonho é destino. Eu sei que nós vamos conseguir mais ainda do que já conseguimos. Todo trabalho é recompensado. Mas que essas gincanas fazem a gente chegar a pensar em arrumar qualquer outro emprego que o pagamento chegue sempre no fim do mês...

ai ai...

Tem que ter muita força de vontade mesmo.

*V.Z*

2 comentários:

Bernardo Lepore disse...

Se importa se eu usar seu lema? "Sonho é destino".

Mas acontece que nunca houve justiça. A não ser nos filmes, as bandas sempre pagaram pra tocar nas rádios; excluindo um ou outro, quem atravessou os anos enriquecendo foram as gravadoras, não os músicos. Hoje elas choram, porque nós temos mp3. Mas a indústria acabou. Temos azar de estarmos crescendo numa era de transição, em que não se sabe como ganhar dinheiro com música - ou melhor, para evitar a ganância da expressão, a gente pode dizer "viver do que ama fazer".

Banda D'HanKs disse...

Senti que eu mesma escrevi este post... Infelizmente essa é a verdade para a maioria de nós!
Bjok'x, Angélica (Banda D'HanKs)